sexta-feira, 12 de junho de 2009

Vende-se tudo! Uma lição de vida


Nos útimos dias, tenho recebido e vivenciado algumas notícias de pessoas que são muito especiais para mim, como por exemplo:
a) um tombo na grama, e, como consequência, uma cirurgia no braço acompanhada de duas placas;
b) uma senhora amiga, simples, de bom coração e compassiva que criou vários filhos (dela e de outras pessoas) e tudo com muita dificuldade, faleceu sem que eu pudesse vê-la novamente e agradecer; etc...
Ademais, a tragédia do avião da Air France.
Enfim, na marra, me vi obrigada a contemplar a impermanência, a praticar o desapego a rever alguns valores.
Aí me lembrei desse lindo texto abaixo que agora compartilho com vocês.

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No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que ela estava vendendo tudo que tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos.
O cartaz dava o endereço do bazar e o local de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou:
- Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.
Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.
Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava as 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali se estava vendendo uma estante.
Eu convidava a subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto.
Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro como brinde e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas. Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu, mais sem alma.
No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperou a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.
Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar.
Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto torna-se cada vez mais difícil de me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida.
Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile. Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio. Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu um café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa.
Fomos embora carreganado apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza.
... só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir, é melhor refletir e começar a trabalhar o DESAPEGO JÁ!



Martha Medeiros


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